quinta-feira, novembro 25, 2004

Venham ver…

Venham ver o que se passa no Largo da Boa Hora, venham ver o que o país quer! Depois de ter visto o telejornal ao almoço de hoje vieram-me à cabeça as seguintes sugestões para que o julgamento da Casa Pia seja o que o povo quer:

- Transferir o Tribunal da Boa Hora para o Pavilhão Atlântico, desta forma não era necessário chegar às seis da manhã para fazer fila para assistir à sessão, como um senhor entrevistado pela televisão;

- Cobrar o preço simbólico de 1 euro à entrada da sessão para que o orçamento da justiça pudesse ser ligeiramente engrossado, e evitava-se o acumular de pessoas na Rua Nova do Almada;

- Substituir os juízes pela Teresa Guilherme, Julia Pinheiro, vestidas por estilistas de renome que dariam assim um novo figurino mais leve a actual à indumentária dos Tribunais e tornariam mais perceptível a linguagem legal;

- Colocar o ministro Rui Gomes da Silva como advogado de defesa, não haveria qualquer tipo de problema em encontrar algum tipo de cabala de que esses senhores estariam a ser alvo o que daria um novo alento ao julgamento;

- O senhor que apresentava o bombástico seria o novo magistrado do ministério público, para poder fazer face á retórica do advogado de defesa com todo o vigor e isenção que o lugar lhe exige;

-No final de cada um dos julgamentos expunham no palco o arguido e perguntavam ao estimado público qual seria a sentença. Nessa altura era ver as velhinhas com as vassouras, os homens de chapéu na cabeça, os jovens do PNR a pedir que se matassem e esfolassem aqueles animais, porque eles não confiam na justiça, a verdadeira justiça é a do povo.

- Os arguidos que fossem considerados culpados pelo público seriam colocados numa cela prisional comum para os lados da Venda do Pinheiro. Teriam que provar com acções como mugir uma vaca, cavar batatas e matar uma galinha que mereciam a liberdade condicional que seria decidida pelos portugueses por votação SMS depois de os guardas prisionais terem nomeado os presidiários com melhor comportamento. As imagens seriam transmitidas diariamente pela RTP no programa “Cela dos famosos”.

Não me atrevo a elencar mais medidas por correr o risco de ser levado a sério, ou então promovido a ministro.

segunda-feira, novembro 22, 2004

Relato

O que seria de uma tarde de um Domingo qualquer sem a voz familiar de um qualquer relatador radiofónico a dar-nos alegrias e tristezas clubisticas a cada segundo. A fazer com que o sofrimento relatado sofregamente seja maior, mas ao mesmo tempo a prolongar indefinidamente o prazer de um golo do nosso clube. A mim faz-me um bocado de confusão ter-se tornado cada vez mais raro o hábito de os jogos de futebol serem aos domingos à tarde. Argumentarão os iluminados que os interesses das transmissões televisivas obrigam a que o fim de semana desportivo comece à sexta e acabe a segunda. Podemos ver mais jogos, é verdade, mas nada pode igualar uma tarde solarenga passada em boa companhia num estádio de futebol.
Esse ritual fez parte da minha infância. Arrastado pela mão do meu pai, e depois arrastando-o eu a ele, e sempre com vontade e esperança encostava-me à grade do 25 de Abril para ver o Penafiel a jogar. Agora já não existe a grade, a bancada, como todo o estádio, parece mais pequena e o Penafiel já não joga de vermelho e preto.

sexta-feira, novembro 19, 2004

Adivinha!

Aqui vai a transcrição de uma notícia da secção de economia de um dos mais prestigiados jornais portugueses:

“ Vodafone com prejuízo de 47 milhões de euros”
A Vodafone, líder mundial de comunicações móveis registou um prejuízo de 4 ,77 mil milhões de libras (6,8 mil milhões de euros) no primeiro trimestre do ano fiscal, que terminou a 30 de Setembro. Valor que a operadora afirma representar um desagravamento de 24 por cento face ao período homólogo.
A Vodafone adianta, contudo, que as contas antes da amortização de “goodwill” (activos intangíveis) e de itens extraordinários revelam um lucro de 5,28 milhões de libras ( 7,5 mil milhões de euros). (…)
In Público 17/11/2004

Qual é o prejuízo da Vodafone, em libras e em euros e a respectiva taxa de cambio entre estas duas moedas?

quinta-feira, novembro 18, 2004

Novos heróis do mar…

Não sei alguém reparou na indumentária que os dois mais altos responsáveis do governo exibiam à entrada de um peculiar e simbólico Conselho de Ministros a bordo do navio escola Sagres. O Paulo e o Pedro traziam um impermeável azul escuro em que se podia ler “Novos Heróis do Mar”. Para completar a encenação o Paulinho deu a conferência de imprensa envergando também um boné com o símbolo da Marinha. Li no jornal do dia seguinte que a encenação teria sido preparada com a ajuda de uma agência de comunicação que vai preparar uma série de iniciativas relacionadas com o mar. o que é preciso é fazer de conta que se faz não é fazer, retórica que o Pedro já seguia em Lisboa e que resultou em obras emblemáticas como novo Parque Mayer e o túnel do Marquês, entre outras.
Serão estes os novos heróis do mar? A pergunta é obviamente retórica e não será necessário escrever nenhuma resposta, no entanto dei comigo a pensar que se já temos novos heróis do mar, para quando teremos os novos inquisidores ou os novos Afonso Henriques que certamente recuperaram o melhor da moral e dos bons costumes que os nossos antepassados carregavam com orgulho.

quarta-feira, novembro 17, 2004

Golfinho regressou ao Tejo..

Li hoje no jornal que o golfinho que andava perdido no Tejo e que os Bombeiros do Montijo libertaram no mar ao largo da Costa da Caparica voltou ao Tejo. Interrogo-me se andaria ele perdido no Tejo ou se na beleza do seu leito teria encontrado a sua casa. Os meus conhecimentos de zoologia marinha não me permitem esclarecer a dúvida, no entanto a minha imaginação permite-me pensar que também este golfinho se rendeu aos encantos do Tejo. Encantos que num dia como o de hoje encontraram o seu esplendor no final de uma tarde amena de Inverno aonde o céu constituía um mini arco-íris em tons de azul, cinza e rosa. O rio absorvia a cor que mais próxima dele estava e servia de continuidade a esse céu de interminável esperança apenas riscado por traços de avião e voos altos de alguns pássaros solitários. Senti uma atracção por aquele cor de magia que o rio trazia nas águas leitosas e tive vontade de entrar lentamente naquele Ganges de Lisboa e procurar também um banho de purificação.
Esperei que a noite chegasse lentamente, as luzes se ligassem e a lua continuasse na sua mentira crescente…
Essa mulher….

Quando a maré vaza e deixa ver os recantos que a água esconde tenho a certeza que o Tejo é também uma mulher. Uma mulher bela com os seus cabelos longos a esvoaçar na ondulação que encontra a margem e os pormenores do corpo escultural que os seixos gastos deixam ver como uma intimidade própria de amantes.
Quando a maré vaza descubro na ténue camada de água, que cobre o que até há pouco não era senão invisível, o reflexo do céu azul. Tal como numa mulher, a beleza visível não é senão um caminho de descoberta constante e incessante para o encanto que as águas turvas não mostram a qualquer um. Confio ao Tejo cada momento da minha paixão, encontrando nas águas calmas que rumam ao mar a felicidade de saber que, apesar da mensagem não ir numa garrafa, vai encontrar o seu destino nas tuas mãos.

quarta-feira, novembro 10, 2004

Tinha sete anos…

Tinha sete anos quando vi na televisão as imagens que não podia compreender de pessoas a saltar um muro e a dizer que era o dia mais feliz da vida delas. Não podia compreender porque saltavam um muro aquelas pessoas e diziam aquelas coisas. Mais tarde quando a razão a idade me permitiram, num qualquer aniversário da queda do referido muro, pensei que a ideia de um muro a dividir uma cidade era no mínimo estranha. No dia em que cheguei a Berlin e vi a frieza de um bocado de betão, aonde desejos de liberdade chocavam ganhando a forma de inscrições de revolta, percebi que algo de errado se tinha passado ali. Não se pode dividir o que não tem divisão, se não podemos dividir uma pessoa ao meio, por que razão se poderia cortar em dois uma alma de cidade…Não me acho no direito de fazer julgamentos políticos do que quer que seja pois a relatividade dos factos ensinou-me a ver o outro lado do óbvio.

Tinha sete anos e agora tenho vinte e dois, e apesar de tudo o que já vi, dos sítios mais ou menos longínquos por onde passei, das sensações que nunca julguei existirem sinto que compreender certos acontecimentos leva o seu tempo e há alguns que nem com todo o tempo do mundo conseguiremos compreeder.

terça-feira, novembro 09, 2004

É fácil ser estudante….

Enquanto usava os motores de busca habituais para procurar “papers” sobre liderança que possam servir de apoio ao trabalho que tenho que realizar, encontrei este site que promete maravilhas para aqueles estudantes que acham que Universidade de resume a festas e passeio pelos corredores e bares da Faculdade. O site explica como funcionam as coisas e como contra o pagamento de honorários é bastante fácil escrever um paper. Os autores do site, supostos ex professores, apregoam o anonimato dos utilizadores e arranjam desculpas para que os estudantes recorram a este serviço.

Na minha modesta opinião, isto não é mais um caso de desresponsabilização dos estudantes, que em Portugal teve o seu auge com o caso dos atestados de Guimarães.

Fica o site para os interessados e curiosos

sábado, novembro 06, 2004

Quis ser poeta..

Ontem voltei a ter aquele desejo que, em alguns momentos raros, me invade e me torna o mais frustrado dos aspirantes a poetas. São aqueles momentos em que a beleza da paisagem se apodera da minha visão e com uma alma cheia começo a querer discorrer sobre tudo o que me encanta.

Aconteceu-me enquanto passeava à beira Tejo aquecido pelas réstias de um sol envergonhado. A paisagem é neste caso um catalisador que me subtrai à realidade e me transporta para os momentos mais felizes através de uma viagem no tempo e no espaço. Não sei quando me senti assim pela primeira vez, no entanto sei o que me levou a sentir desta forma e a querer pintar o mundo com as cores da felicidade. Com as cores que vejo no fundo dos teus olhos e que o pincel do teu sorriso esbate na minha alma de apaixonado.

Quis ser poeta para ser um fingidor. Para poder fingir que o encanto que a vida me proporciona não é menor quando estás longe….

sexta-feira, novembro 05, 2004

George W Bush

Está na minha memória, e provavelmente na de muitos, a frase que este senhor proferiu aquando da tomada de Bagdad pelas tropas da Coligação e consequente afastamento de Sadam do poder: “ O mundo é um sítio mais seguro sem Sadam no poder”.
O colorido mapa que a CNN mostrava na manhã (madrugada nos Estados Unidos) de quarta feira e em que se via o litoral pintado de um azul, que era de esperança para todos os que deste lado assistiam impotentes à decisão dos americanos, e um largo interior vermelho de republicanismo. Bush ganhou, e desta vez com a maioria dos votos populares, facto que nos pode deixar ainda mais preocupado. Apesar de na realidade Kerry não ser muito diferente em termos de política externa, poderia emprestar ao cargo de presidente de uma nação que expande o seu domínio e influência a todo o mundo um pouco mais de inteligência.
Normalmente as pessoas votam no candidato com quem se identificam mais, o que nos pode dizer muito dos 59,459,765 americanos que votaram em Bush.
Ocorre-me apenas dizer que sem Bush no poder o mundo seria sem dúvida um sítio melhor…

quarta-feira, novembro 03, 2004

Casa

Houve uma altura na minha vida em que facilmente atribuía significado a esta palavra. Casa era o sítio aonde eu vivia com os meus pais, irmão e companhia canina. Aonde após cada ausência se regressava sabendo aonde encontrar cada coisa que fosse preciso.
No seguimento da minha formação fui para Lisboa estudar e lá tive que encontrar uma nova casa para viver. Partilhei a casa com um conterrâneo e passei dois anos felizes na capital portuguesa, no entanto sempre que indagado sobre o que faria neste ou naquele fim de semana respondia invariavelmente “Vou para casa”, sendo que a casa a que me referia era a mais de 300 km de distância, mas aonde eu me sentia realmente em casa. Os dois anos seguintes foram passados numa casa a que pude finalmente chamar minha, não só por questões meramente legais, mas finalmente por maior identificação sentimental com o local físico e pelo distanciamento do anterior. Nesses dois anos ainda tive outra casa, na Holanda, por pouco tempo mas a que sempre chamarei casa porque tive realmente poiso e saudade desse sítio. Agora regressado a Lisboa apenas num interregno que me levará de novo a procurar casa sinto-me em lugar nenhum. Sinto que a minha casa já não me pertence, tenho-a apenas emprestada por algum tempo, e que a que agora chamo casa dos meus pais, foi minha casa, mas já não a sinto a achar-me parte dela. Acho que várias vezes confundo casa com lar, mas para mim estas palavras só podem ter o mesmo significado quando me refiro à minha casa e tenho a tentação de dizer que era fácil para mim encontrar esse lugar se devidamente acompanhado. Luís Sepúlveda diz numa das suas obras que um “homem é de onde se sente bem, e não necessariamente de onde nasceu”. Para mim é fácil concordar com esta afirmação e acrescentar apenas que por vezes é fácil sentir-me em casa….

terça-feira, novembro 02, 2004

Coltrane….

Foi este nome posto em link no blog “Palavras Insurrectas” que, numa tarde mais ou menos caseira, despertou a minha curiosidade. Carreguei no link e lá me apareceu uma página bem desenhada de um senhor de tonalidade quente e ritmos de Jazz. A curiosidade foi ao ponto de fazer o download de algumas músicas que de imediato me soaram bem. Sempre apreciei musicalidades calmas, ou que na sua essência tivessem alma. Não há dúvida que o Jazz é um estilo que tem tudo para me agradar, mas nunca se tinham conciliado todos os factores para que despertasse finalmente para este estilo musical. Isso aconteceu não há muito tempo, e dirigi-me finalmente à parte mais recôndita da secção musical da Fnac aonde fui procurar, por puro instinto, algo do John Coltrane. Encontrei um CD chamado Coltrane for Lovers que de imediato me despertou a atenção. O preço não era excessivo e achei que valia a pena arriscar, sendo que o risco era controlado pois estava recomendado pelo Daniel (ouvinte experimentado nestas latitudes musicais). Cheguei a casa depois de um dia em que a chuva resolveu aparecer em força, e quando a noite estava instalada na solidão do meu quarto carreguei no play. O que se passou a seguir iria superar as minhas melhores expectativas, há quem diga eu as tenho excessivamente baixas, e deliciei-me a ouvir aquelas melodias que me aqueciam a alma e me traziam apenas memórias boas de tempos felizes.

Vou continuar a descobrir esses links, mas se quiseres dar algumas sugestões, a minha cultura musical agradece.

segunda-feira, novembro 01, 2004

Poliglota!

Esta sexta-feira foi assinado em Roma o tratado Constitucional para a União Europeia. Lá estavam todos os chefes de governo dos 25 membros mais 3 possíveis futuros membros, uns mais de que outro. Com uma noção de oportunidade única, a realização ia mostrando alternadamente imagens da Conferência Intergovernamental e da bela capital italiana. A sala decorada a preceito, tinha o elemento adicional de ter sido palco da assinatura do tratado fundador da C.E.C.A., que mais tarde originaria a C.E.E. e U.E. O Sílvio estava sorridente e visivelmente satisfeito por toda a centralidade que assumia, apesar de a presidência rotativa caber ao Harry Poter holandês, na assinatura deste importante Tratado. Não faltava o nosso Zé Manel, a quem todos reconhecem facilidade no domínio das línguas francesa e inglesa, a discursar no seu Francês fluente, alternando depois para Inglês e concluindo em Português mas sem esquecer os anfitriões brindando-os com uma citação em Italiano. Com esta capacidade para as línguas como é que foi possível demorar tanto tampo a perceber o que a maioria do Parlamento Europeu não gostava na sua equipa de comissários. Vem de trás esta dificuldade, pois após as eleições europeias e quando julgava ter percebido a mensagem dos portugueses abdicou do trono.