quinta-feira, outubro 30, 2003

Lá Fora
Estou agora na biblioteca sentado em frente a um computador. Estive a ler uns mails dos amigos e família , li as noticias de Portugal. Do futebol fica mais uma inauguração de um estádio do EURO 2004, desta vez o renovado Calhabe . Tudo o resto gira a volta da pedofilia, não há nada de novo, sempre a mesma novela com contornos cada vez mais circenses e nada abonatórios para a sociedade portuguesa.
São três da tarde em Maastricht , e pelo grande vidro que compõe a janela da sala aonde me encontro vejo já o começo do crepúsculo ! A minha volta umas dez pessoas sentadas em frente de computadores, escrevem e-mails, fazem trabalhos em mangas de camisa ou magas curtas e lá fora o frio a obrigar as pessoas a vestir casacos grossos e a cobrir as mãos e cabeça com agasalhos de Inverno. A chuva vai aparecendo de quando em vez e molha os menos prevenidos, não me parece que os holandeses se sintam incomodados pela chuva, pois nem tão pouco aceleram o passo quando uma nuvem se desfaz em agua.


terça-feira, outubro 28, 2003

Viajar
Cada vez que embarco numa nova viagem lembro-me de uma frase que o meu pai me disse quando eu devia ter uns 10 anos e na véspera de uma partida para um campo de férias na Serra da Estrela. "Há um ditado chines que diz: se gostas do teu filho deixa-o viajar".
Viajar é uma possibilidade de abrir os nossos horizontes e de ver para além do imediato e aparente. É compreender culturas diferentes e nao dizer se são melhores ou piores, pois julgamentos desse tipo são sempre uma forma de se achar superior, apenas diferentes.
Todas as viagens mudaram de certa forma a minha maneira de ver as coisas, ou porque foram um veículo para novas amizades, ou porque permitiram-me ter novas e inolvidaveis experiencias ou porque simplesmente me mostraram paisagens e locais ainda mais exóticos do que meu imaginário concebera.
Na minha última viagem a Amesterdão constatei o pragmatismo dos Holandeses nas montras do Red Light District e como a fronteira que separa o sagrado do profano pode ser tão ténue como uma rua de apenas dois metros de largura que de um lado tem a Catedral Velha de Amesterdão e do outro uma meia dúzia de montras aonde mulheres sentadas em bancos de bar expõe o seu corpo em biquini e fazem sinais que finjo nao entender.
Afinal de contas a vida nao é mais do que uma viagem!

quarta-feira, outubro 22, 2003

Não tenho desculpa
A semana anterior não coloquei nenhum texto novo neste blog porque estava atolado entre trabalhos finais, apresentações e exames. Agora não tenho vontade de opinar sobre o que seja e uma inércia criativa apoderou-se de mim. estou de ferias...... No entanto parece não haver desculpa para esta perguicite aguda que me atacou e que me leva a querer apenas viver o momento e não a passa-lo para formato de texto sob pena de falar em tão delicada passagem, por isso, e na busca de inspiração criativa, vou amanha para Amesterdão . Prometo que o meu regresso será também o regresso de textos diários a este blog.
Carpe diem

quarta-feira, outubro 08, 2003

Arc Building

O Arc Building é o nome do edifico aonde eu vivo desde que iniciei esta aventura de ERASMUS. O edifico já nao é novo, e até tem uma remodelacao anunciada para Marco do próximo ano, no entanto já representa o aconchego de casa quando deixo para trás o frio e a chuva que nao cessam. Como tem 10 andares o elevador é amíude um ponto de encontro dos amigos, local para fazer novas amizades e quando nenhum destes casos se dá e tenho que fazer o percurso do piso K até ao 9 sozinho aproveito para olhar pela janela esguia que compoe a porta de cada andar. Parece que estou a passar pela vida particular dé várias famílias, vejo alguém de pijama a passear pelo corredor, outro a falar ao telefone, outros que discutem futebol e outros ainda que trocam apontamentos por via oral. O facto de um edíficio ser antigo acarreta alguns problemas no quotidiano, no entanto as pessoas que o habitam fazem-no viver intensamente um dos períodos mais intensos da vida, a juventude! No piso 9 do Arc vivem 10 pessoas. Para além de mim há o Michael, que é o meu companheiro de quarto, é americano e republicano. Há dois italianos, a Paola e o Daniel, um húngaro, uma sueca, uma finladesa, uma alema, uma canadioana e uma checa. Como a cozinha é comum e a televisao encontra-se na sala adjacente, estes dois espacos dao aso a conversas sobre temas variados como política internacional, futebol e demais desportos, cultura, economia, faculadade e como é natural raparigas/rapazes. É sempre interessante ter pontos de vista tao distintos como os do Michael e os meus ou os do Daniel.
Como estamos sempre no gozo uns com os outros é natural ter um post-it na minha porta a dizer que a Itália vai ganhar o campeonato da Europa de Futebol em Portugal como resposta ao que eu coloaquei na porta do quarto ao lado informando o italiano que Portugal era campeao do Mundo de Hoquei em patins tendo derrotado a Itália na final. Para agucar o apetite para uma discussao sobre que nivel de intervencao deve o governo ter na economia é sempre bom ir ao frigorífico buscar um pacote de Clinton Ice Tea e servir um pouco da American way of life ao jovem republicano, e alertar a alema que este Ice Tea é um produto alemao.
Já faz parte da vivencia de Erasmus o intercambio culinário, noutro dia fiz um arrozinho de favas com um estrugido bem puxado que granjeou elogios do lado alemao e italiano. A massa que o italiano cozinha é mesmo pasta italiana ainda que servida num alguidar de plástico dadas as quantidades. O americano é também um amante do garfo e é usual ve-lo a cozinhar uns molhos especiais que depois poe por cima de esparguete e que resultam da combinacao de uma quantidade infindável de molhos que ocupam os armários da cozinha. Também ja experimentamos um prato do Québec, que foi o resultado de uma transformacao das racoes servidas aos trabalhadores chineses que construiram os caminhos de ferro e auto-estradas canadianos. Já foi oficialmente aceite ter Nutella, produto que os italianos nao se cansam de dizer que é italiano, como sobremesa, seja em panquecas ou tostas. No entanto há um ingrediente comum a estes jantares, a boa disposicao, os convidados sempre diferentes e muitas vezes o seguranca a pedir para fechar a janela pois os vizinhos do outro lado da rua já se estao a queixar.

sábado, outubro 04, 2003

O Beijo

Uma das coisas em que a cultura latina melhor se distingue das demais é na tradicional forma de cumprimento entre homens e mulheres, o beijo. Quando cheguei a Holanda e iniciei o processo fantástico de fazer amigos deparei-me algumas vezes com o embaraco de ficar "pendurado" quando me lancava no acto de beijar uma rapariga para selar o inicio de uma amizade. Comecei entao a entender que os holandeses nao tem uma forma tao pura de iniciar uma amizade como nós, e preferem ser mais reservados e faze-lo com um tradicional aperto de mao. A medida que este processo de conhecimentos e partilha de cumplicidades foi evoluindo deparei-me que o facto de as raparigas cumprimentarem os rapazes que acabam de conhecer com uma aperto de mao nao era exclusivo holandes e era antes um lugar comum nos povos do centro e norte da Europa. No entanto um facto curioso de aculturacao numa escala diminuta comecou a verificar-se em Maastricht. A comunidade portuguesa que no meu melhor conhecimento deve ter cerca de 10 pessoas, todos estudantes da Universidade de Maastrciht, e a maior parte deles de Economia, tentou implementar o uso de beijar na face uma rapariga que se acaba de conhecer. Claro que tirando as italianas e espanholas, que apesar de alguma surpresa encaravam a situacao como normal, as restantes raparigas com especial destaque para as nordicas nao pareciam compreender o que na sua cultura e encarado como um sinal de descaramento e atrevimento. Houve algumas que cederam aos argumentos do habito e costume portugues e outras que simplesmente preferiram nao continuar a conversa.
A luz dos nossos valores o beijo na face como forma de selar um conhecimento recente nao engloba nenhum sinal que va para alem de uma empatia que se deseja criar desde o inicio de uma amizade, e tem, na minha opiniao, um grau de ingenuidade associado. No entanto apesar da globalizacao crescente a todos os ni­veis e salutar manter costumes que nos distinguem dos demais povos e que sao na sua essencia uma forma de demonstrar a riqueza dos diferentes mosaicos culturais que constituem o mapa da Europa.
Como disse Fernando Alves a proposito do beijo de Chirac na mao de Laura Bush citando Oscar Wilde:O beijo tambem e cultura, e a melhor forma de conhecer outra li­ngua

quarta-feira, outubro 01, 2003

Não sou o único!
Depois de ontem ter ilustrado o meu ponto de vista sobre o tema das propinas em Portugal, eis que na edição de hoje do jornal Público Fernando Rosas dá também a sua opinião sobre o mesmo tema .http://jornal.publico.pt/2003/10/01/EspacoPublico/O01.html Surpreendente ou não as nossas opinioes desaguam no mesmo mar de idignação face a esta política.
Seja como for, os estudantes parecem já ter começado a responder a esta questão. Eles têm razão em se opor ao aumento das propinas ou aos processos decisórios a isso conducentes. A sua atitude de revolta é justa, pois dirige-se contra a discriminação económica no acesso ao ensino superior público e a favor da sua dignificação e qualidade. Como cidadão e como docente universitário, estou solidário com eles