quarta-feira, novembro 03, 2004

Casa

Houve uma altura na minha vida em que facilmente atribuía significado a esta palavra. Casa era o sítio aonde eu vivia com os meus pais, irmão e companhia canina. Aonde após cada ausência se regressava sabendo aonde encontrar cada coisa que fosse preciso.
No seguimento da minha formação fui para Lisboa estudar e lá tive que encontrar uma nova casa para viver. Partilhei a casa com um conterrâneo e passei dois anos felizes na capital portuguesa, no entanto sempre que indagado sobre o que faria neste ou naquele fim de semana respondia invariavelmente “Vou para casa”, sendo que a casa a que me referia era a mais de 300 km de distância, mas aonde eu me sentia realmente em casa. Os dois anos seguintes foram passados numa casa a que pude finalmente chamar minha, não só por questões meramente legais, mas finalmente por maior identificação sentimental com o local físico e pelo distanciamento do anterior. Nesses dois anos ainda tive outra casa, na Holanda, por pouco tempo mas a que sempre chamarei casa porque tive realmente poiso e saudade desse sítio. Agora regressado a Lisboa apenas num interregno que me levará de novo a procurar casa sinto-me em lugar nenhum. Sinto que a minha casa já não me pertence, tenho-a apenas emprestada por algum tempo, e que a que agora chamo casa dos meus pais, foi minha casa, mas já não a sinto a achar-me parte dela. Acho que várias vezes confundo casa com lar, mas para mim estas palavras só podem ter o mesmo significado quando me refiro à minha casa e tenho a tentação de dizer que era fácil para mim encontrar esse lugar se devidamente acompanhado. Luís Sepúlveda diz numa das suas obras que um “homem é de onde se sente bem, e não necessariamente de onde nasceu”. Para mim é fácil concordar com esta afirmação e acrescentar apenas que por vezes é fácil sentir-me em casa….

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