quarta-feira, outubro 20, 2004

Saudade

Eram onze e pouco da manhã de um dia triste e frio quando no meio da Europa me comecei a sentir outra vez em casa, estava a chegar a Maastricht. Passaram dez meses sobre a data do meu regresso à realidade, ou do fim do sonho e a verdade é que parece que nunca deixei a capital do Limburgo para trás. Para além de esta ser constantemente evocada por todos os que comigo partilharam tão singular experiência em encontros mais ou menos esporádicos, a verdade é que algumas das melhores coisas que se passaram naqueles meses que desafiaram a rotina continuam presentes. Os verdadeiros amigos nunca se esquecem e os amigos que trouxe de lá continuam a privilegiar-me com a sua amizade.
Maastricht estava cheia de pessoas que se cruzavam constantemente no frenesim das compras, que por lá são feitas nas ruas dessa velha cidade. Servi de cicerone e mostrei a alguém que me tem mostrado as coisas mais belas que já vi os lugares mais emblemáticos da minha experiência de Erasmus. A residência foi a primeira paragem, e apesar de não ter entrado no Arc Building, senti que o poderia fazer mais tarde, tal era a sensação de pertença ao curioso edifício de varandas azuis. Lá estavam os mesmos sinais proibindo os carrinhos de supermercado e lá estavam as bicicletas debaixo do “fietstaling”, os seguranças zelosos a cada carro que entrava e dava a volta junto à recepção e apesar de não estarmos lá fisicamente, estiveram presentes na minha memória todos os bons momentos que ali passamos. Faltavam as couves, a bicicleta e principalmente o autor da famigerada foto matutina do acto impulsionado pela emoção nocturna.
Já suficientemente nostálgico segui para o Highlander, que parecia não ter o mesmo fulgor do início de noite aquela hora da manhã, onde me pareceu ouvir alguém a falar portunhol…
A faculdade estava fechada, mas cheguei a entrar na biblioteca depois de ter feito o caminho habitual pela ponte em frente ao conservatório aonde parecia tocar uma música mais triste do que nos tempo de então.. Almocei no V&D, local que me foi introduzido pelo Gravito, ainda sem conversa de Champôs.
Segui pela Niewestraat, aquela grande que sai do Vrijthof e vai até à St Servatiusbrug serpenteando a multidão e recordando o beco que dava alas à vontade e ao desafio depois de umas cervejas no Twee Heeren e a caminho do Meta e que custou um atraso na entrada no Alla. No Vrijthof alcancei com um olhar longínquo o Multibanco tantas vezes utilizado nas viagens de casa para o centro e pareceu-me ouvir alguém gritar pelo Nuno…
Atravessei as pontes, primeiro a velha depois a nova e já sentia saudades. Gabriel Garcia Marquéz escreveu que a pior forma de sentir saudades de alguém é estar ao seu lado e sentir que nunca poderá tê-la, eu acrescento que apesar de não poder estar mais bem acompanhado nesse dia, da minha camisola ter escrito “University Maastricht”, senti uma saudade enorme por saber que já foi minha essa cidade e que nunca mais poderá alguma vez ser minha da mesma forma que o foi.

2 Comentários:

Blogger daniel disse...

Um comentário para não comentar nada. Porque às coisas completas não se deve acrescentar nada, sob pena de estragar tudo.

Bravo, Miguel.

20 de outubro de 2004 às 21:42  
Blogger Gonçalo disse...

Senti-me com o que escreveste um pouco como quando estive lá em Janeiro, desfalcada a comitiva portuguesa, com os sítios por que passáva sem a mesma vivacidade de outros tempos. Arrepiante a frase do meu homónimo Marques (mas com z).

Parabéns pelo novo visual do blog.

21 de outubro de 2004 às 21:12  

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial